sexta-feira, 30 de julho de 2010

A experiência que produz fé

A experiência com Jesus como Senhor, que desperta a resposta da fé, varia tanto quanto o número de pessoas que passam por ela. […] Quaisquer que sejam as circunstâncias, o mesmo fio perpassa cada experiência. A explicação fica por conta do erudito bíblico John McKenzie:

“O elemento básico parece ser o reconhecimento. Reconhecemos que a pessoa com quem estamos tendo contato fala direto e fundo ao nosso ser, atende nossas necessidades, satisfaz nossos anseios. Reconhecemos que essa pessoa confere sentido à vida. Não digo novo sentido, mas sentido apenas, pois reconhecemos que, antes de entrar em contato com ela, a vida simplesmente não tinha sentido real. Reconhecemos que ela se revelou a nós, e não somente a si mesma, mas também nos revelou nosso verdadeiro eu. Reconhecemos que não podemos ser nosso verdadeiro eu sem nos unir a essa pessoa. É nela que a escuridão recebe luz, a incerteza cede lugar à certeza, e a insegurança é trocada por um profundo sentimento de segurança. Descobrimos que nela passamos a compreender muitas coisas que nos deixam confusos. Reconhecemos que ela é a fonte de força e poder que fluem para nós. E a maior certeza de todas é o reconhecimento de que nessa pessoa encontramos Deus e que jamais o encontraremos de algum outro modo”. (The Power and the Wisdom)

A fé, nascida dessa experiência indispensável, infunde em nós o conhecimento prático do único Deus verdadeiro e de Jesus Cristo, que ele enviou. A certeza serena daquele que crê pode ser traduzida com toda simplicidade: “Eu sei que sei que sei”, por mais que tal certeza seja tênue e contemplada através de um vidro escuro. (Brennan Manning, 2009, Confiança Cega, Mundo Cristão, p.100-101)

sábado, 3 de julho de 2010

Dica de cinema


Vidas Cruzadas (The Private Lives of Pippa Lee, 2009)




O filme, dirigido por Rebecca Miller, é adaptado do romance homônimo também escrito por ela. É uma história simples que conta a história de uma mulher em colapso nervoso, Pippa (no filme vivida por Robin Wright Penn), que vê desgastar-se seu casamento com um marido idoso (Alan Arkin). A partir de flashbacks da adolescência, a trama nos mostra como a vida dela chegou àquele ponto.

Pippa é uma típica heroína "rebequiana", se já dá pra chamar assim: sua dedicação à rotina e à preservação de uma imagem de mulher bem-sucedida escondem um desamparo tremendo. É um pouco uma história de Pigmalião adaptada para tempos neuróticos. Ansiedade se traveste de normalidade - afinal, não há depressão nos EUA de hoje que não se trate com um remedinho - e ideais de completude, de realização de fato, parecem cada vez mais uma utopia.

A melancolia dá o tom nas tramas da diretora, e em Pippa Lee, mais do que em O Tempo de Cada Um, ela parece ser uma coisa contagiosa: a filha que sofre a reboque do abuso de remédios da mãe, o futuro marido que enxerga e se reconhece no vazio existencial de Pippa, a bela esposa do homem que, com um tiro, transfere para a futura esposa, sua substituta, todo o seu próprio mal-estar.

Se a tristeza parece sem fim, Pippa Lee tem, para compensar, um ponta de esperança que soa estranha dentro da cinematografia de Rebecca Miller: a certa altura, o filme dá a Pippa a esperança de se reapaixonar. É um elemento estranho porque habitual das comédias românticas mainstream, e não da linha indie de onde a diretora saiu. (Normalmente, para balancear o lado triste, Rebecca exporia o ridículo da vida, espécie de solução "auto-vacina", e em Pippa Lee o humor decorrente do ridículo também está presente, ainda que em menor grau.)

Como a Pippa adolescente é interpretada por Blake Lively - musa teen do seriado Gossip Girl em seu primeiro grande papel dramático no cinema - e o elenco tem figuras conhecidas como Keanu Reeves, Julianne Moore, Winona Ryder e Monica Bellucci, esse flerte com o mainstream fica mais evidente. E é justamente o ponto fraco do filme, como se o alento romântico na trama fosse uma concessão aos finais felizes hollywoodianos. Ter que acreditar em um Keanu Reeves com um Cristo tatuado no peito inteiro também não ajuda.


É uma história simples. Sem estrelismos, cada um representa seu papel na medida e no tom exatos exigidos pelo denso, mas bem-humorado, romance de Rebecca Miller, que a própria autora adaptou para o cinema.

Para quem gosta de histórias de superação e, principalmente, de guinadas radicais na vida, o filme de Rebecca é uma pequena joia. Sua estreia está prevista para São Paulo, Rio, Porto Alegre, Brasília e Fortaleza.

Pippa Lee (Robin Wright Penn, de "Invasão de Domicílio") é uma mulher madura, ainda bonita, que se dedica em tempo integral ao marido, o editor de livros Herb (Alan Arkin, de "Pequena Miss Sunshine"), 30 anos mais velho. Como ele passou por recentes problemas cardíacos, ela está sempre atenta, medindo sua pressão periodicamente e ministrando seus remédios. Ela cuidou também para que o marido abandonasse suas atividades diárias no escritório e passasse a trabalhar numa casa confortável, num ritmo menos intenso.

TRAILER DO FILME "A VIDA ÍNTIMA DE PIPPA LEE"

Durante um jantar para um grupo de amigos (sempre os mesmos), ela passa a questionar o modelo de vida que leva e busca nas memórias da infância, adolescência e fase adulta pistas para definir sua personalidade atual. Algo não vai bem, mas ela ainda não conseguiu identificar o que falta para completar sua vida.

A vida de Pippa não foi muito certinha. Ao contrário, fugiu da casa dos pais (a mãe era viciada em antidepressivos) para viver com uma tia (que descobriu depois ser lésbica). Sumiu de novo para morar com hippies durante o período do "paz e amor", se embebedou e drogou até, finalmente, conhecer o editor Herb, numa agitada festa com intelectuais e artistas na casa dele.

As coisas entram nos eixos após o casamento, com Pippa anulando todo seu potencial criativo para viver em função do marido. É ela quem sempre dá conselhos e tenta, diplomaticamente, fazer com que os opostos se entendam. E é isso que ela não suporta mais fazer.

Simultaneamente, Pippa conhece um homem mais novo (Keanu Reeves, de "O Dia em que a Terra Parou"), que acabou de se separar da mulher e voltou a viver na casa dos pais, vizinhos de Pippa.

Há algo de misterioso nesse personagem, que tentou ser padre e mandou tatuar uma enorme imagem de Jesus Cristo no peito, de braços abertos. Ambos, que parecem tão disfuncionais, têm muita coisa em comum, que começarão a descobrir aos poucos.

E também aos poucos o espectador acompanhará a jornada de Pippa em busca do autoconhecimento, da superação, e talvez de uma nova oportunidade de vida. Mesmo não querendo ser mais diplomata, conseguirá, ao seu modo, que as peças se encaixem no enorme quebra-cabeça armado à sua volta.

(Por Luiz Vita, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb